segunda-feira, 31 de maio de 2010

dinossauros, nós

Nascidos assim
em meio a isso
enquanto as faces de greda sorriem
enquanto a Dona Morte ri
enquanto os elevadores quebram
enquanto os cenários políticos se dissolvem
enquanto o empacotador de supermercado ostenta um diploma universitário
enquanto o peixe gorduroso expele sua presa gordurosa
enquanto o sol se mascara

somos
nascidos assim
em meio a isso
em meio a essas cuidadosas e insanas guerras
em meio à visão das janelas quebradas de uma fabrica de vacuidade
em meio a bares onde as pessoas já não falam umas com as outras
em meio a brigas de soco que terminam com tiros e facadas

nascido em meio a isso
em meio a hospitais que são tão caros que sai mais em conta morrer
em meio a advogados cujos honorários tornam mais barato alegar culpa
em meio a um pais em que as cadeias estão cheias e os manicômios fechados
em meio a um lugar em que as massas promovem imbecis a ricos heróis

nascidos em meio a isso
caminhando e vivendo através disso
morrendo por causa disso
calados por causa disso
castrados
depravados
deserdados

por causa disso
enganados por isso
usados por isso
irritados por isso
enlouquecidos e doentes por isso
levados à violência
levados à inumanidade
por isso

o coração está enegrecido
os dedos buscam a garganta
o revolver
a faca
a bomba
os dedos vão em busca de um deus que não responde

os dedos buscam pela garrafa
pela pílula
pela pólvora

nascemos em meio a esta pesarosa mortalidade
nascemos em meio a um governo com dividas superiores a 60 anos
que em breve não será capaz sequer de pagar os juros dessa divida
e os bancos arderão
o dinheiro será inútil
haverá mortes impunes e a céu aberto nas ruas
haverá armas e multidões errantes
a terra será inútil
a comida se tornará pouco lucrativa
o poder nuclear entrará em colapso pelas inúmeras
explosões que continuamente sacudirão a terra
homens-robô radioativos se atacarão em silencio
os ricos e os escolhidos assistirão a tudo de plataformas espaciais
o Inferno de Dante parecerá brincadeira de criança

o sol não será mais visto e a noite será constante
as arvores morrerão
toda vegetação morrerá
os homens radioativos comerão a carne de homens radioativos
os mares serão venenosos
os rios e lagos desaparecerão
a chuva será o novo ouro
os corpos putrefatos dos homens e dos animais federão ao vento negro

os poucos sobreviventes serão consumidos por novas e hediondas doenças
e as plataformas espaciais serão destruídas pelo desgaste natural
pela diminuição dos suprimentos
pelo efeito da decadência geral

e então haverá o mais belo silencio jamais ouvido

nascido disso tudo.

o sol seguirá escondido

à espera do próximo capitulo.

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