quinta-feira, 7 de abril de 2011

Naquela Mesa - Nelson Gonçalves

Naquela mesa ele sentava sempre
E me dizia sempre o que é viver melhor
Naquela mesa ele contava histórias
Que hoje na memória eu guardo e sei de cor

Naquela mesa ele juntava gente
E contava contente o que fez de manhã
E nos seus olhos era tanto brilho
Que mais que seu filho
Eu fiquei seu fã

Eu não sabia que doía tanto
Uma mesa num canto, uma casa e um jardim
Se eu soubesse o quanto dói a vida
Essa dor tão doída, não doía assim

Agora resta uma mesa na sala
E hoje ninguém mais fala do seu bandolim
Naquela mesa ta faltando ele
E a saudade dele ta doendo em mim
Naquela mesa ta faltando ele
E a saudade dele ta doendo em mim

Para Lucas, com saudade.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Texana – Charles Bukowski.



Ela é do Texas e pesa
47 quilos
e para em frente ao
espelho penteando oceanos
de cabelos ruivos
que descem ao longo de todas
suas costas até a bunda.
O cabelo é mágico e lança
faíscas quando me deito na cama
e a vejo penteá-los.
Ela parece uma criatura
saída de um filme mas está
aqui de fato. Fazemos amor
pelo menos uma vez por dia e
ela consegue me fazer rir
sempre que deseja.
As mulheres do Texas são sempre
saudáveis e, além disso, ela
limpa meu refrigerador, minha pia,
o banheiro, e faz comida e
me serve alimentos saudáveis
e lava os pratos
também.

‘‘Hank’’, ela me disse
segurando uma lata de suco
de uva, ‘’Este é o melhor de
Todos’’.
Dizia na lata: suco natural de uva
ROSA do Texas.

Ela se parece com Katherine Hepburn
na época
do ensino médio, e vejo esses
47 quilos
penteando um metro
de cabelo ruivo
diante do espelho
e a sinto dentro de meus
pulsos, e no fundo de meus olhos,
e os dedos e as pernas e a barriga
a sentem, assim como
aquela outra parte,
e toda Los Angeles se desfaz
e chora de contentamento,
as paredes das alcovas tremem –
O oceano invade tudo e ela se vira
e me diz, “maldito cabelo!”
e eu digo,
“sim”.